CARTA ABERTA à Sociedade e ao Governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues “Ninguém ouviu, um soluçar de dor no canto do Brasil. Um lamento triste sempre ecoou desde que o índio guerreiro foi pro cativeiro e de lá cantou...” (“Canto das Três Raças” - Mauro Duarte / Paulo César Pinheiro)
Dor imensa. Irreparável. Dor ancestral. Desde que os invasores portugueses chegaram nessa terra, os corpos dos povos nativos tem um destino: o genocídio, a morte indiscriminada, que chega a tal ponto, que já nem nos indignamos mais – ou o suficiente.
Mas não! Estamos aqui para gritar em apoio aos povos silenciados, mas sempre em luta, e dizer que nem uma só morte a mais é aceitável, ou que vire mais um número no imenso rol de estatísticas da burocracia estatal, ou seja esquecida por nova tragédia, de uma sociedade que se deixou cegar, ao ponto de não enxergar mais o sangue dos povos que habitam milenarmente essa terra, mesmo que esse sangue seja o suficiente para encher a “Baía de Todos os Santos”.
Subscrevendo tudo que foi dito e publicado em nota pela Apib - Articulação dos povos indígenas do Brasil e Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espirito Santo - verdadeiras(os) articuladoras(es) e protagonistas dessa luta: “a ação perpetrada na a tarde deste domingo, 21/01, onde três lideranças indígenas do povo Pataxó-hã-hã-hã e foram baleadas, durante um conflito com a polícia militar e fazendeiros do grupo autointitulado “invasão zero”, na retomada do território Caramuru, município de Potiraguá, no extremo sul da Bahia”. Conforme segue a nota: “o cacique Nailton foi atingido e sua irmã, Nega Pataxó, foi assassinada. Duas pessoas foram espancadas e uma mulher teve o braço quebrado. Ruralistas da região cercaram a área com dezenas de caminhonetes, enquanto a polícia atirava contra os indígenas. Dois fazendeiros foram presos por porte ilegal de arma. Um vídeo mostra os feridos no chão, ainda sem socorro, sendo cercados pelo grupo de ruralistas, que comemoravam a violência”.
Nesse sentido, nos dirigimos diretamente ao Governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, o primeiro que se assume como descendente dos povos nativos, que tome urgentes e imediatas providências, afinal, tratou-se de uma ação orquestrada e planejada – por isso é preciso saber por que a inteligência da Polícia Militar sob seu comando, não o avisou do risco de conflito, e do explícito conluio entre as forças policiais locais com milícias e latifundiários. Que a Força Nacional e a Polícia Federal ocupem imediatamente a área, sob supervisão dos órgãos de Direitos Humanos Estaduais e Federais, bem como toda a rede governamental que deve assegurar a integridade física e material dos povos nativos.
Chega! Basta! O corpo ancestralizado de Maria de Fátima Muniz “Pajé Nega Pataxó”, tem que ser o último. Nenhuma gota mais de sangue dos povos nativos sobre essa terra.
O Sagrado, que é fonte de vida e amor, exige que cada um(a) de nós assuma esse compromisso, pintados em nossos rostos, marcados como tatuagens em nossas pele.
Janeiro de 2024
Aliança de Batistas do Brasil
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