Integrantes de diferentes igrejas, eles têm em comum o fato de rejeitarem a prioridade que os pastores bolsonaristas dão à pauta de costumes
Além dos líderes religiosos que têm feito campanha para Lula (PT) Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT), adversários do presidente Jair Bolsonaro (PL) na disputa pelo Planalto, existem alas da comunidade evangélica que não fecham com o governo e que têm entre si um ponto em comum: rejeitam a prioridade que os pastores bolsonaristas dão à chamada pauta de costumes, que foca em temas como aborto e homossexualidade.
Em geral, esse grupo é formado por integrantes de igrejas que se apresentam como progressistas, inclusivas, defensoras dos direitos humanos e antiarmamentistas. E, curiosamente, suas entidades representativas são comandadas por mulheres - fatia do eleitorado em que a desaprovação a Bolsonaro é maior.
Secretária-geral do Conic (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil), fundado em Porto Alegre há 40 anos para reunir denominações evangélicas e setores da Igreja Católica, a pastora Romi Bencke afirma que as divergências entre a entidade e Bolsonaro são históricas e que não vê possibilidade de conciliação. Isso porque o Conic foi muito ativo em 2003 na aprovação do Estatuto do Desarmamento, um dos alvos preferenciais do presidente, que editou uma série de normas para facilitar o acesso dos cidadãos às armas.
"Sempre tivemos interlocução com todos os presidentes desde a redemocratização, exceto com Bolsonaro", diz a pastora, ligada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana.
Mais recentemente, o Conic apresentou à Câmara um pedido de impeachment de Bolsonaro, por causa de sua conduta na pandemia.
A Aliança de Batistas do Brasil, sediada em Maceió e composta por sete igrejas e outros coletivos, é outra entidade evangélica que faz oposição aberta a Bolsonaro. Suas pautas são ligadas às demandas da classe trabalhadora, seus fóruns tratam de temas como negritude e direitos LGBT e uma de suas principais bandeiras é a defesa da laicidade do Estado, segundo a presidente da entidade, Camila Oliver, da Igreja Batista Nazareth, de Salvador. Do mesmo modo, o grupo Mulheres EIG - Evangélicas pela Igualdade de Gênero, fundado pela teóloga Valéria Vilhena, rechaça o bolsonarismo, critica a bancada evangélica do Congresso e acusa o governo de ter promovido um desmonte das políticas públicas para as mulheres.
"Eu não posso compactuar com um governo que defende tortura, que tem como símbolo a morte", diz o pastor Daniel Santos, da igreja CCZL (Comunidade Cristà na Zona Leste). Para ele, o que existe no meio evangélico é uma "disputa de narrativas" em que pastores midiáticos ligados ao bolsonarismo - em geral, das grandes igrejas pentecostais e neopentecostais - tentam se apresentar como porta-vozes de toda a comunidade evangélica, o que não é verdade.
Não existem estudos que mostrem a representatividade dos evangélicos progressistas em relação ao total de evangélicos - que hoje representam 24% do eleitorado, segundo a mais recente pesquisa XP/Ipespe -, mas eles costumam congregar em igrejas de porte pequeno e médio. Ainda assim, podem ser uma parcela importante do eleitorado na batalha pelos votos desse segmento religioso. Segundo o levantamento XP/Ipespe de março, Bolsonaro tem 37% da intenção de votos dos que se declaram evangélicos, ante 33% de Lula.
Fonte:
VEJA Por Da Redação 19 mar 2022, 09h31
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